segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conto: O namorado da prima.

  A família do meu pai é bastante numerosa, com seis tios e uns quinze primos de todas as idades.
Me lembro que quando era criança os almoços de família eram em volta de uma mesa enorme e eu costumava me enfiar embaixo enquanto os "adultos" conversavam para brincar ou tirar uma soneca. Se tivesse sorte, um tio ou primo ou mesmo meu pai me pisavam com seus sapatos, botas ou tênis.

Como eu sempre estava por lá, ninguém mais ligava, ou pedia pra eu sair...

Eu trazia meus carrinhos e ás vezes uma prima ou primo ou um tio pisavam neles. Como tinha tapete, eles nem estragavam...

Neste domingo veio o novo namorado de uma das minha primas, o Carlos. Ele era surfista/skatista, então usava boné, bermuda e tava com uns tenis vans cano alto tipo old school, que eu já achava um tesão.



Eu estava lá no chão brincando com o meu carrinho quando o Carlos entretido na conversa esticou a perna cabeluda e pisou no meu carrinho com o tênis 44 dele. Eu ouvi um "crec" abafado e ele começou a movimentar rápido o calcanhar com a perna inquieta. Só via meu carrinho ceder ao peso do pesão dele naquele tenis animal.

 Eu fui tentar "resgatar" o carrinho e tentar puxar debaixo da sola suja do tênis dele quando ele esticou novamente o pé e pisou na minha mãozinha de 6 anos de idade. Ele não sentiu diferença nenhuma no chão e ficou com o pé direito em cima por um bom tempo. Ele às vezes mudava a posição impiedosamente, esmagando meus dedinhos...
Eu fiquei bem quieto, não sei por que exatamente, mas curti aquele skatista com atitude meter o pesão na minha mão.

Aí ele pôs o pé esquerdo em cima de mim, pisando nas minhas costas com o bico do tênis. Na hora ele tirou, mas como eu não reclamei e eu punha um monte de coisas no chão para fazer minha "cabana" ele deve ter achado que tinha pisado em uma almofada ou algo assim, porque ficou tateando o chão até me achar embaixo dos pés dele.

Neste momento eu tinha virado de costas e ele pousou os dois pés na minha barriga e peito. A sensação era incrível. Ter um adolescente arrogante achando que vc é parte dos móveis e pisar com a sola suja da rua era excitante até para uma criança.

Ele batucava a ponta dos pés, às vezes girava os calcanhares, mudava de posição, me pisoteando com tudo!

Aí a solona direita dele encontrou minha cabecinha. Ele ainda achava que era algum brinquedo ou algo assim, porque não ligou no que pisava.A planta do pé acertou meu nariz e o esmagou. A dor foi muita, mas o resto da sola tava esmagando minha boca, então não tinha como gritar ou pedir ajuda... Saía uma lágrima do meu olho e eu achava que ia morrer ali, naquela hora, embaixo do Carlos.

A sola dele tinha o cheiro forte da borracha e das coisas que ele pisou na rua e que agora esfregava em mim...

Depois de um tempo ele tirou os pés de mim e eu fui pra outro quarto brincar... Mas eu senti os pés daquele garoto por um bom tempo, marcados na memória...

Hoje o Carlos é casado com minha prima e eles têm duas meninas lindas! Será que ele pisa nelas?

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