“No Ritmo da Pisada”
Balada “Subsolo 13”, sexta-feira à noite. A fumaça de gelo seco invadia tudo, o grave das caixas fazia o peito vibrar e as luzes piscavam como se o mundo estivesse preso num loop de eletricidade e adrenalina. No comando das pick-ups, DJ Nebuloso, lenda das madrugadas, conhecido por nunca repetir um set e por seus tênis Vans de cano alto — pretos, reluzentes, míticos.
No meio da multidão, estava ele: Joca, um sujeito aparentemente normal, com cara de quem curte um som… mas que escondia um desejo peculiar.
— É hoje… — murmurava, segurando um energético barato e olhando fixamente pra cabine do DJ.
Ele não queria selfie, não queria autógrafo, nem uma música dedicada. Joca queria ser pisado. Por aquele DJ. Na pista. Durante o drop.
Enquanto a galera dançava, Joca tramava seu plano. Foi se infiltrando entre os dançarinos, se aproximando da cabine, e no momento exato em que Nebuloso levantou o braço pra soltar o drop da noite — um remix insano de techno com xote — Joca mergulhou no chão.
Com precisão ninja, enfiou a mão bem onde o DJ costumava dar aquele pulinho de empolgação. E então…
TCHÁÁÁÁ!
(drop caindo violentamente)
CRÁÁÁCK!
— AAAAAH, AÍ SIM!!! — gritou Joca, em êxtase.
O DJ nem percebeu. Continuava no ritmo, entregando batida atrás de batida. Mas Joca… Joca estava iluminado. A sola do Vans ainda vibrava na memória da sua pele.
— Foi leve, mas cheia de groove… — sussurrou, com lágrimas de emoção.
Seguranças o arrastaram pra fora da pista, achando que ele tinha passado mal.
Lá fora, sentado na calçada, segurando o punho com reverência, Joca olhou pro céu estrelado.
— Consegui. Fui ungido. O drop desceu, e com ele… a bota urbana do som.
Desde aquela noite, Joca virou lenda urbana entre os clubbers. Dizem que ele frequenta festas underground com luvas acolchoadas, pronto pra outra “benção de sola”. E toda vez que um DJ calça um Vans de cano alto, ele aparece no canto da pista, sorrindo misteriosamente.
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